

"Quando o melhor lugar do mundo é o Barracuda"
O Globo,15 de Abril de 2005
FOI EM MEIO a denúncias de plágios de pratos alheios que fui parar no Barracuda, restaurante que há mais de duas décadas funciona quietinho, sem alardes - mesmo com todas as suas mesas ocupadas - na Marina da Glória, no Aterro do Flamengo.
E antes que eu seja mal interpretada, esclareço que não estive ali para complementar a reportagem de capa. muito pelo contrário: elegi o Barracuda justamente para mudar de assunto. E refrescar as idéias.
O calor era infernal e meu alento, mesmo que cruel, foi imaginar a temperatura média lá pelos lados de Xapuri. Funcionou: encarei o trajeto até o Aterro, a bordo de um taxi com ar-condicionado totalmente lesado, numa boa. E assim que entrei no Barracuda, fresquinho na medida, perfumado, elegante e bem cuidado, pensei com os meu garfinhos: o melhor lugar do mundo é aqui. E agora.
Não sei como é o Barracuda à noite. De dia, acho adorável. Da minha mesa avistei o mar, os barcos, as pessoas pingando lá fora... E eu só ali, no bem-bom, comendo bolinho de bacalhau dourado e sequinho, daquele moldado na colher, que não é cópia de ninguém: é assim que manda o figurino lusitano.
Mais entradinhas (se é que existe diminutivo na cozinha portuguesa): tachinho com champignons, tigelinha de bacalhau desfiado e bisque de camarão no Pernod, que dividi com uma amiga entre goles de um belo vinho verde.
Adoro a cozinha portuguesa. E especialmente os nomes personalíssimos de seus pratos: bacalhau à Narcisa, lombo de bacalhau à Julio, à Conde de Guarda, à fragateiro...
A casa lançou uma feijoada interessantíssima de polvo, feita com feijão mulatinho. Deram-me uma provinha, aprovada com louvor.
No prato principal, pegamos pesado. Tudo pelo leitor! Coelho à caçadora, com batata, cebola, bacon e cogumelos, e chanfana de cabrito à moda de Coimbra feito no vinho tinto.
Cópia? Clonagem? Numa casa portuguesa não tem disso não. Com certeza.
